O senso comum acredita que a aula de Educação Física é somente um espaço para se fazer exercícios ou se jogar um esporte (normalmente o futebol). Mas, segundo vários documentos (um desses documentos é o PCN’s – Parâmetros Curriculares Nacionais), a disciplina Educação Física tem vários conteúdos. O esporte, a dança, as lutas são alguns deles.
Dentro dos conteúdos da Educação Física, podemos encontrar os jogos. Não os esportes (apesar de todo esporte ser um jogo), mas estamos falando dos jogos de uma maneira geral. Jogos como Carimba, Pega, Pular corda, etc.
E como tudo que o homem estuda, os jogos foram classificados de várias formas. Jogos simbólicos, de expressão, esportivos, etc. Uma dessas classificações é referente aos Jogos Cooperativos. Mas o que são esses jogos cooperativos?
Amaral (2004) diz que são “atividades que requerem um trabalho em equipe com o objetivo de alcançar metas mutuamente aceitáveis (p. 13)”. De uma forma simples, são jogos onde o foco principal não é a vitória, mas atingir determinado objetivo comum. E esse objetivo só pode ser alcançado, ou é melhor e mais rapidamente alcançado, quando há um trabalho em equipe. Quando existe uma cooperação entre quem está participando. É um jogo em que a cooperação está em primeiro lugar, e onde a vitória como a conhecemos não é importante.
Muitos estudiosos perceberam, em estudos sobre o comportamento humano, a necessidade da existência de jogos capazes de promoverem uma influência no comportamento humano (e uma melhoria nas aulas de Educação Física). E eles deram sua contribuição para que os Jogos Cooperativos pudessem existir como proposta para isso. Soler (2005) cita autores como Ted Lentz, Morton Deutsch, Margaret Mead, Jim e Ruth Deacove, dentre outros. Teixeira (2007) afirma que “os Jogos Cooperativos surgiram, da reflexão do quanto a cultura ocidental principalmente, valoriza excessivamente o individualismo e a competição”. Em palavras simples, percebeu-se que praticamente todas as pessoas supervalorizam a competição, e isso trouxe diversas conseqüências negativas em vários aspectos da sociedade. Diante dessa problemática, os jogos cooperativos surgiram.
Se o leitor ainda não percebeu, este é o objetivo de se trabalhar os jogos cooperativos nas aulas de Educação Física. A nossa sociedade é altamente competitiva. Todo esporte que conhecemos é de competição. Alguém ganha e alguém perde. E muitas vezes aprendemos na nossa vida que para vencer é preciso derrubar o outro. Pouco se aprende sobre ganhar junto com o outro. E a escola na maioria das vezes incentiva isso, como um espelho da sociedade. Por exemplo, a maioria das escolas particulares possui um time chamado de “seleção”, de alguma modalidade esportiva, que representa a escola em eventos. Quem participa desta seleção? Alguns poucos alunos, os “melhores”, que passaram por uma peneira organizada por um professor / técnico. Quem deseja participar? Praticamente toda a escola. Mas a atividade de competição é excludente. Poucos participam e menos ainda ganham.
O jogo cooperativo busca mostrar a possibilidade de se jogar e se viver de uma maneira diferente de competir: cooperando, ajudando um ao outro, crescendo junos.
Nas aulas de Educação Física realizadas na escola José Maria Pontes da Rocha no ano de 2010, foram feitos muitos Jogos Cooperativos. Esses jogos, quando tiveram ou não seus objetivos atingidos, foram discutidos entre professor e alunos. Por que conseguiram sucesso? Por que não conseguiram? O que poderia ter sido melhor? As discussões sobre as respostas destas perguntas entre professor e alunos são a tentativa de conhecimento destes jogos e de suas características. Além disso, essas discussões permitem uma reflexão sobre as atitudes que tomamos quando jogamos e quando estamos em diversas situações do dia-a-dia, como quando estamos na escola ou no trabalho.
Talvez em algum momento esses jogos tenham sido usados de uma maneira competitiva, mas em sua essência, eles são Jogos Cooperativos, pois podem ser feitos de maneira que uma equipe única participe, com todos os membros com participação efetiva, sem ninguém de fora, e com todos vencendo.
O objetivo de se trabalhar esses jogos nas aulas de Educação Física foi, como já foi dito anteriormente, o de mostrar que existem outras possibilidades de se jogar e de se conviver além da competição. Competir é bom, é interessante, mas tem muitos pontos negativos. E a competição como é colocada por nossa sociedade tem muito mais pontos negativos ainda. E a cooperação é uma dessas possibilidades. Ajudar o outro, em casa, no trabalho, na escola ou em qualquer meio em que você viva é uma excelente medida para diminuir a violência de nossa sociedade e ter uma vida mais agradável.
Diferenças básicas entre cooperação e competição:
Situação Cooperativa
Os participantes percebem que atingir os seus objetivos é, em parte, conseqüência da ação dos outros membros.
Os participantes são mais sensíveis às solicitações dos outros.
Todos se ajudam mutuamente com freqüência.
Há maior homogeneidade na quantidade de contribuições e participações.
A produtividade em termos qualitativos é maior.
Frustrações ocorrem em menor quantidade.
A honestidade ocorre com bastante freqüência.
“O jogo somos nós”
Joga-se com o propósito de continuar jogando.
Quem joga, gosta de ser surpreendido.
Situação Competitiva
Os participantes percebem que atingir seus objetivos é incompatível com a obtenção dos objetivos dos demais.
Os participantes são menos sensíveis às solicitações dos outros.
A ajuda mútua ocorre com menor freqüência.
Há maior heterogeneidade na quantidade de contribuições e participações.
A produtividade em termos qualitativos é menor.
Frustrações ocorrem em maior quantidade.
A trapaça, a “esperteza”, ocorrem com maior freqüência.
“O jogo sou eu”
A finalidade maior é terminar o jogo.
Quem joga, gosta de controlar o jogo.
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